Alan G. Cardim

Ausência Vem da criação mesmo quando vem de vez. Empanzinado de subterfúgio, tentando escapatória, ingerindo a oratória. Calando. Não vai ser incentivando, se não cheirou à monóxido de carbono. O umbral vermelho está aqui, bem próximo de quem o quer seguir A crise dos humanos, dos poucos, restam nada. AC

O Menino Nada   Era uma vez um menino que havia perdido todos os seus brinquedos. Ele não tinha mais o carrinho, nem o ioiô. E as bolinhas de gude, as que mais gostava, ele não encontrava... Triste, andando pela rua, sem seus brinquedos, ele não via mais sentido em quase nada e, sem rumo, vagava. Os dias passavam e o menino não mais brincava, pois os brinquedos lhe faltavam. Tanto tempo passou que o menino cresceu e percebeu que não havia nada, ele não tinha nada... Nada. E foi aí, nesse exato momento, que ele descobriu que tinha tudo. AC

Quando morre desaparece O sorriso da criança que encantou a Esperança As borboletas no jardim que enfeitam a natureza O encanto dos amantes que colore os dias cinzentos Quando morre  desaparece Sempre que penso que vou  me desconectar é que sinto o desejo,  me olho no espelho quero ir passear Todo mundo entende o existir mas ninguém me explica o que sentir Quando acho que estou perto de entender Vem você e desaparece AC

A farda é um fardo Quando eu nasci, existi Quando existi percebi que vivida é a vida cuja farda é exibida Tem a farda do bondoso que se mostra generoso Tem farda do maldoso que parece horroroso e tem a farda da verdade que mente na primeira oportunidade Tem a farda do profeta que ao acaso erra e acerta Tem a farda do ditador que nos outros causa dor e a farda do palhaço que faz rir por um trocado A farda é um fardo Relutantes não percebemos Somos todos coadjuvantes A farda é um fardo Ninguém existe de verdade Porque demora mas não tarda que nessa alucinada brevidade  o que nos define é a farda E na certeza inabalada caminhamos sem sentido rumo ao tudo: é quase nada AC

Aurora A atual conjuntura especulativa conjuga a condição outorgada em paradigma contraditório que sentencia gélida a transição pálida da geração falida Gritam jovens hienas atormentam engravatados babuínos que devoram o canto dos passarinhos tal qual famigerados felinos Comunhão de outrora dilacerada na aurora de um tempo que não mais retorna AC

Em vão Você não vai acreditar em vão Eu vou mudar essa situação Você vai ver a minha condição É que eu ainda tenho um coração Leva pra mim o que ficou dessa canção não foi em vão É que eu perdi minha razão quase parou meu coração Em vão vamos cantando essa canção Em vão... AC Foto Autoral.